No excerto do texto, da autoria de James Wertsch (1998), que, hoje, se apresenta, explora-se, a partir da analogia que se estabelece com o salto com vara, o conceito vigotskiano de «ação mediada», defendendo o autor que a ação humana é, sempre, uma ação que diz respeito a um “indivíduo-que-opera-com-meios-mediacionais” (p. 62). Trata-se de uma reflexão que é útil porque põe em causa as visões épicas sobre as TIC, a IA e as ilusões de que a sua utilização é condição suficiente, só por si, para se promoverem inovações curriculares e pedagógicas.
“Os saltadores usavam antigamente varas pesadas e rígidas de nogueira-americana, freixo ou abeto. As varas de bambu, que eram mais leves e flexíveis, foram introduzidas nos Jogos Olímpicos de 1900. As vantagens das varas de bambu foram rapidamente reconhecidas, sendo amplamente adotadas. Os recordes estabelecidos com elas estenderam-se até 1957. Cornelius Warmerdam, (...), usou varas de bambu ao estabelecer seis recordes mundiais. (...).
Ninguém igualou o desempenho de Warmerdam durante a era da utilização da vara de bambu, mas após a Segunda Guerra Mundial o desempenho dos saltadores começou a melhorar com a introdução de varas de liga de aço e alumínio. A grande mudança que tornou possível igualar o recorde de Warmerdam e todos os outros foi a introdução da vara de fibra de vidro na década de 60. A flexibilidade e a força bem maiores dessas varas levaram a uma grande mudança nos estilos de salto. Ao curvar as varas quase 90 graus no salto, os competidores foram capazes de saltar 91,5 cm mais alto do que os recordes estabelecidos com bambu e varas de metal. Foi a vara de fibra de vidro e os atletas que passaram a usá-la que tornaram possível para os saltadores atuais como Sergei Bubka atingir alturas de mais de 7 metros” (p. 63-64).
Para Wertsch, do ponto de vista da ação mediada, o salto com vara é uma analogia interessante porque, segundo ele, é “inútil, se não ridículo, tentar entender a ação do salto com vara” (p. 64), em função, apenas, das propriedades da vara ou, exclusivamente, a partir das caraterísticas atléticas dos saltadores. Na verdade, é a relação entre a vara e o atleta e o modo como estes se intercondicionam que explica a qualidade dos resultados que se alcançam. Daí que Wertsch defenda:
Para os meus propósitos , o ponto principal de interesse aqui é que a ação mediada pode passar por uma transformação fundamental com a introdução de novos meios mediacionais (...). Novamente, tudo isso não quer dizer que os meios mediacionais de alguma forma agem sozinhos. Um indivíduo usando um novo mediacional teve de mudar, uma vez que isso exigia novas técnicas e habilidades. Nesta ligação vale a pena observar que alguns atletas saltavam mais alto com varas de alumínio do que com varas de fibra de vidro e, para outros, o oposto dava certo” (idem, p. 65).
Fonte
Wertsch, James V. (1998). A necessidade da ação na pesquisa sociocultural. In Wertsch, James V; del Río, Pablo; & Alvarez, Amelia (Coord.), Estudos socioculturais da mente (56 - 71). Porto Alegre: Artmed.
A relação é o segredo