O «Público» de hoje, 24.02.2024, noticia a morte do maestro Fernando Eldoro. Um homem com uma carreira notável em Portugal e no estrangeiro, seja como compositor, como diretor de orquestra ou como professor de música em escolas e cursos do Ensino Superior. Recordo-o aqui, no entanto, não por essa carreira, mas por ter sido meu professor de Música, no final da década de 60, no Liceu Alexandre Herculano. Naquele tempo, onde as aulas de música eram tão pobres, pacóvias e cinzentas como o país, Fernando Eldoro mostrou-nos um caminho educativo que não sonhávamos ser possível percorrer. Nas aulas, trazia consigo um gira-discos portátil e punha-nos a aprender a dialogar com compositores como Béla Bartók, Rimsky-Korsakov ou Tchaikovsky. Deste último, lembro-me, por exemplo, da sua Ouverture Solenelle 1812. Tínhamos 13/14 anos e foi, fascinados ou atónitos, que sentimos como o troar dos canhões, a força da cavalaria e o horror dos campos de batalha adquiria um significado, até àquele momento, inédito. A música abria-nos as portas de um mundo que até então nos tinha estado vedado. Foi também esse jovem professor que numa iniciativa arrojada fundou um coro masculino onde nos propunha a interpretação de espirituais negros e de composições da sua própria autoria. Com esse coro apresentamo-nos, um dia, num festival de coros juvenis no Teatro S. João. Mais do que conseguir o 1º prémio nesse festival, o que perdura, na minha memória, foi o que vivi através dessa experiência inolvidável, compreendendo que era possível estar na vida e ser gente de um modo que, na verdade, desconhecia. Até sempre, Professor Fernando Eldoro… obrigado.
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Obrigado Rui por nos fazer viver tempos recuados do maestro Fernando Eldoro, que já na altura se revelava um professor de música excepcional. Um abraço de toda a família.
Desconhecia... Obrigada, Rui. Pelo tributo e pela partilha. É tão importante trazer à memória gente que vale a pena e eternizá-los por essa via!