Chama-se Sandra (Sandra Carvalho) e é a educadora de infância que acompanhou a nossa neta desde os dois anos de idade, tal como a Luísa (Luísa Soares), uma pessoa igualmente significativa para a pequena Catarina e para as crianças com quem tem vindo a partilhar uma parte muito importante da sua vida.
Vão transitar, no próximo ano letivo, para o 1º Ciclo do Ensino Básico e, por isso, o tempo é de despedidas. Houve uma festa maravilhosa, prendas, abraços, beijos e um livro. Um documento para que as memórias não se evaporem, onde os testemunhos das crianças sobre a Sandra falam por si, não poupando em palavras como amiga e divertida ou desejando-lhe que continue a ser boa professora.
“A Sandra ensina muitas coisas”.
“Gosto muito dos livros que traz para a sala e das histórias que conta”.
“Gostei muito de ir com ela aos teatros e ver os espetáculos”.
“Gostei de fazer construções com os materiais diferentes que traz”.
“Aprendi a fazer desenhos”.
“Gostei de fazer trabalhos com letras e com números”.
“Gostei que me ajudasse a fazer melhor os trabalhos”.
“Gosto muito quando nos leva para o Covelo para brincarmos com as coisas da Natureza”.
“Aprendi a partilhar e gostei de andar de metro”.
“Gosto muito de fazer os registos que nos pede”.
“Gosto das atividades com tintas”.
“Gostei de ir a Vila do Conde visitar a nau”.
Numa outra página é a vez da Luísa. Também ela é vista como “boa professora”, “querida”, “fixe”, “brincalhona” e que “gosta de trabalhar com os meninos”. Há quem reivindique orgulhosamente que é “a nossa auxiliar”, enquanto outros escrevem que “fico alegre quando vejo a Luísa” ou que “gosto da calma da Luísa” ou que “gosto quando a Luísa me dá abraços” e, ainda, que “gosto dos materiais que a Luísa arranja para as artes”.
Apesar de todos os testemunhos permitirem confirmar o lugar que a Sandra e a Luísa ocupam na vida de cada uma destas crianças, estou convencido que muito ficou por dizer, fazendo sentido recordar, mais uma vez, que o essencial é invisível aos olhos. Fica incrustado nos nossos corpos, permeia os nossos gostos e hábitos ou está presente nas nossas vozes, sem que tenhamos consciência disso. Por isso, é que os educadores, para o bem e para o mal, são decisivos.
No caso da Sandra e da Luísa, acredito que ambas pertencem a um grupo de profissionais da educação cujos membros se caraterizam por viverem encantadas com o que fazem. É isto que faz toda a diferença e que explica a sua disponibilidade, o modo como pensam a sua atividade enquanto educadoras, o modo como refletem sobre esta atividade ou o modo como se afirmam no papel de construtoras de um tipo de conhecimento profissional que os testemunhos das crianças, atrás transcritos, foi revelando.
Obrigado é, por isso, um palavra muito pobre para lhes dizer o quanto lhe estamos agradecidos. Contudo, como somos muitos a dizê-lo, tenho a esperança que este obrigado se aproxime do obrigado que gostaríamos de lhes oferecer. Um obrigado justo e firme por terem contribuído para que aquele grupo de crianças, onde se inclui a Catarina, tenha aprendido a descobrir-se e a afirmar-se como seres humanos, a aventurar-se, a transcender-se, a compreender a importância de outros olhares e perspetivas, dos compromissos, das regras e dos limites. Também graças à Sandra e à Luísa puderam provar, afinal, o que Shakespeare designou, um dia, por leite da ternura humana.
Talvez o segredo esteja mesmo no apaixonado encantamento por fazer ser o outro.