No dia 12 de julho de 2015, no jornal «Público», Lurdes Figueiral escrevia um texto intitulado «O doce nome dos meus alunos». Um texto belíssimo de uma professora que nas escolas que percorreu, no Conselho Nacional de Educação ou na Associação de Professores de Matemática sempre se afirmou pelo trabalho em torno de um projeto de educação escolar mais inclusivo e culturalmente significativo. Um desafio que, hoje, adquire uma maior amplitude quando nas nossas salas de aula nos deparamos, como ela o assinala, com estudantes que ostentam nomes portugueses “clássicos e novos, de todas as origens, e nomes (e pessoas) russos, ucranianos, franceses, italianos, indianos, brasileiros, vietnamitas...”
Os nomes que André Ventura utilizou para alimentar o ódio, a mentira e a desfaçatez que o nutre são os mesmos nomes que Lurdes Figueiral enaltece e agradece
porque vêm dar um novo significado ao meu ser professora, dar-me a capacidade de conhecer mais para entender melhor, de admirar a sua resiliência, os seus esforços pelo menos a duplicar em relação a colegas que têm no português a sua língua materna. E que, num país em recessão demográfica tão dramática, vêm dar futuro aos professores e às escolas. Agradeço-lhes porque os seus pais e familiares vêm ajudar a pagar a minha iminente reforma, os meus medicamentos, os nossos serviços de saúde. Ao lado deles não me surgem lágrimas de rejeição ou medo, mas de comoção e alegria.
Para mim, os doces nomes dos meus alunos são a expressão do “doce nome de Jesus”, uma tradição espiritual cristã muito querida em Portugal. E desculpem-me este tom confessional, que tenho muito respeito e pudor em utilizar na praça pública, no pátio dos gentios, mas que hoje me sinto impelida a usar no areópago, porque estou um bocado farta de quem invoca a fé e o nome de Deus para justificar posições inumanas e palavras que incentivam o ódio e a exclusão, quando, exatamente no discurso em que invetiva os fariseus hipócritas ("ai de vós..."), Jesus diz: "Um só é o vosso Pai e todos vós sois irmãos."
Obrigado, minha querida Lurdes por seres quem és. Alguém que, como o afirmas no texto que assinaste, cultiva a esperança e não desiste “da construção dessa liberdade cujo único medo deveria ser o de agredir, o de desrespeitar, o de retirar condições de dignidade e de vida a qualquer ser humano”.
Alguém que nos propõe não uma recusa, mas um olhar cujo cosmopolitismo adquire forma e peso na evocação da mensagem que partilhou com todos nós da autoria de Francisco, o papa, para nos recordar que
Hoje ainda estamos sob o domínio do Faraó. É um domínio que nos deixa exaustos e insensíveis. É um modelo de crescimento que nos divide e nos rouba o futuro. A terra, o ar e a água estão poluídos por ele, mas as próprias pessoas acabam contaminadas por tal domínio. De facto, embora a nossa libertação tenha já começado, permanece em nós uma inexplicável nostalgia da escravatura. É como uma atração para a segurança das coisas já vistas, em detrimento da liberdade.”
A variedade de nome é magnífica. Felizmente hoje não sabemos a nacionalidade das crianças pelo nome. E há nome poéticos.