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Avatar de Daniela Ferreira

Obrigada pela partilha. Desconhecia este texto e a sua clareza, embora o autor me seja muito familiar.

O ofício de ser professor reside nos encontros com os seus alunos, encontros ricos, diversos, plurais e rigorosos. O desafio é inerente à aprendizagem e esta decorre da atitude curiosa do aluno, num movimento pessoal mas sempre acompanhado. É este desafio que nos transporta de um estado para o outro e que dá sentido às aprendizagens e torna tão singular a ida à escola.

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Avatar de josé Matias Alves

Certo. De acordo.

Não se deveria imaginar, de fato, que o acompanhamento pedagógico dos alunos seja uma maternagem permanente, uma maneira de ceder aos seus caprichos ou de lhes permitir abandonar-se sistematicamente à facilidade com a doce certeza de que, façam o que fizerem, sempre terão a indulgência do professor. Do mesmo modo, o confronto com saberes de alto nível não implica o abandono de pessoas em dificuldade diante dos obstáculos que encontram (...)... nem maternagem nem abandono, todo ensino verdadeiro, em todos os níveis, assume, ao mesmo tempo, o caráter inquietante do encontro com o desconhecido e o acompanhamento que proporciona a segurança necessária. Ele não livra o aluno de se jogar na água, de se lançar em uma aventura inédita para ele, mas lhe dá alguns conselhos para não se afogar, indica-lhe alguns apoios para avançar e prevê uma corda no caso de um passo em falso.

Mas sublinho aqui o não pode ser uma maternagem permanente. E imediatamente me lembrei de um texto antológico de Roland Barthes: Imaginemos - ou relembremos - três práticas da educação.

A primeira prática é o ensino. Um saber (anterior) é transmitido pelo discurso oral ou escrito, rolado no fluxo dos enunciados (livros, manuais, cursos).

A segunda prática é a aprendizagem. O «mestre» (nenhuma cono­tação de autoridade: a referência seria antes oriental), o mestre, pois, trabalha para si mesmo diante do aprendiz; não fala, ou pelo menos não debita um discurso; o seu dizer é puramente deítico: «aqui, diz ele, faço isto para evitar aquilo ... ». Transmite-se uma competência em silên­cio, monta-se um espectáculo (o de um fazer) no qual o aprendiz, entrando na ribalta, se introduz pouco a pouco.

A terceira prática é a maternagem. Quando a criança aprende a andar, a mãe não discorre nem demonstra; ela não ensina a marcha, não a representa (não se põe a andar diante da criança): apoia, enco­raja, chama (recua e chama): incita e protege: a criança pede a mãe e a mãe deseja a marcha da criança.

No seminário (é a sua definição) todo o ensino é rejeitado: nenhum saber é transmitido (mas pode ser criado um saber), nenhum discurso é mantido (mas há um texto que se busca) : o ensino é decepcionado. Ou alguém trabalha, investiga,--produz, reune, escreve diante dos outros; ou todos se incitam, se chamam, põem em circulação o objecto a produzir, as atitudes a compor, que passam assim de mão em mão, suspensas pelo fio do desejo, como o anel no jogo do furão.

Roland Barthes. No Seminário. in Seabra. J.A. (org) (1979).Barthes – Discurso – Escrita – Texto. Braga: Livraria Editora PAX (pp. 69-78)

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