Ao fim da manhã, em Guimarães, ouvindo António Nóvoa falar da Escola como um bem público e comum, fomos confrontados, no último dispositivo da sua brilhante intervenção, com George Steiner que nos inquiria:
“Como foi possível tocar Schubert pela noite e marchar no dia seguinte, de manhã, para cumprir as ‘obrigações’ no campo de concentração?
Nem a grande literatura, nem a música, nem a arte puderam impedir a barbárie total. Chegaram mesmo a ser o ornamento dessa barbárie. Com frequência proporcionaram uma decoração, uma fioritura, uma formosa moldura para o horror.
O senhor Gieseking tocou Debussy - de maneira sublime, parece - enquanto na rua se ouviam os gritos daqueles que passavam pelas estações de Munique rumo ao campo da morte de Dachau.
Por que é que as humanidades não nos humanizaram?
Por que é que a cultura não nos tornou mais humanos?”
Sinto-me sempre perturbado perante momentos como este porque acabo de esbarrar, inevitavelmente, com a pergunta incontornável de T. Adorno: Como educar depois de Auschwitz? Nessa manhã, contudo, houve uma outra interrogação que aflorou na minha mente: Como educar depois de Gaza e da Cisjordânia?. É que na minha mente ecoavam, ainda, as palavras de Pacheco Pereira, escritas no «Público» do dia 10 de maio de 2025, advertindo-os que “só conheço uma comparação para esta indiferença: o encolher de ombros de todos os que sabiam que o Holocausto estava em curso”.
Pensei, com cuidado, se a fotografia que deveria ilustrar seria a dos escombros ou o dos rostos destas crianças. Optei pelos rostos porque sei que os edifícios se reconstroem e a destruição se esquece. Não sei, contudo, se isso acontece quando essa mesma destruição se encontra instalada nos nossos corpos. E digo não sei porque tenho de alimentar a esperança que, neste caso, a destruição poderá vir a ser, apenas, uma memória distante.