Vale a pena ler...
Vale a pena ler a resposta de David Rodrigues, num texto intitulado «Educação Inclusiva: embrulho dos presentes envenenados» (Público, 28.02.2025), a um outro texto da autoria de Rita S. Bonança e Beatriz Rodrigues (Público, 24.02.2025) que, sob o título «O presente envenenado na educação inclusiva», defende que “o DL n.º 54/2018 prometia ser uma solução, mas colocou em risco o futuro de milhares de crianças e jovens, deixados à deriva, sem o suporte adequado”.
No seu texto, David Rodrigues lembra, em primeiro lugar, que“ao contrário do que é dito, este decreto não promete nada (as leis não prometem nada) mas institui uma forma de funcionamento inclusivo das escolas portuguesas através de um conjunto de princípios a seguir e da organização da escola para poder atender todos os alunos”. Em segundo lugar, defende que “afirmar que a falta de categorização afeta o apoio aos alunos é uma afirmação incorreta e ultrapassada. Atribuir e congregar numa categoria tipos de dificuldades que nos parecem similares não nos elucida sobre os meios que são precisos para lhes responder. Pelo contrário: a categorização é responsável por estandardização de entendimentos, estratégias e metodologias que se imagina são comuns às pessoas que foram colocadas dentro da categoria. Pensar que a categorização levaria a um melhor apoio educacional é um retrocesso e uma triste revisitação do modelo clínico que entendia que a educação precisa de receitas e de tratamentos”.
Obrigado, David por nos recordares que “os presentes envenenados embrulham-se em papéis bonitos para disfarçar”.
Vale a pena ler, também, o trabalho jornalístico de Cristiana Faria Moreira (Público, 28.01.2025) que nos informa que o “Estudo do Edulog que concluía que 40% das escolas do 1º ciclo tinham menos de 15 alunos vai ser revisto. Cálculos feitos com base no Infoescolas apontam para que sejam 10% com menos de 20 estudantes. Se o coordenador do estudo, David Justino, já admitiu o erro, o que se elogia, falta, contudo, que diga alguma coisa acerca das suas propostas para minorar a falta de professores, o que, relembra-se, seria conseguido, na perspetiva do autor, através, também, do encerramento de muitas dessas escolas. Aguardam-se, por isso, as cenas dos próximos capítulos.
Vale a pena ler, finalmente, um texto de Luís Fernandes, «Não, não é bullying», que constitui uma resposta ao estudo da «Missão Escola Pública», já abordado neste blogue através de uma reflexão de Matias Alves. Neste estudo, intitulado “Instantâneos da Escola Pública: Inquérito Bullying a professores - Conclusões iniciais”, aquela entidade denuncia o bullying de que os professores seriam vítimas por parte dos alunos e dos respetivos encarregados de educação.
Para Luís Fernandes, “não existe bullying entre crianças e jovens em idade escolar e adultos, sejam estes professores, assistentes operacionais, técnicos ou outros que façam parte do seu quotidiano, escolar ou lúdico”. Daí que defenda que “Não podemos ter entidades, públicas ou privadas, associações, grupos de trabalho, programas ou projetos, constituídos por pessoas que trabalham na área da educação, com largos anos de experiência (até de trabalho prático, no terreno), com responsabilidades de decisão e com acesso facilitado ao palco mediático (jornais, revistas, canais televisivos, incluindo online) que lhe dão, a divulgar dados e informações que, sendo extremamente relevantes e merecedores de muita reflexão e, obviamente maior mobilização por parte das entidades responsáveis, foram obtidos com base em instrumentos de recolha de dados incorretamente construídos”.
Para o autor, necessitamos de introduzir mais rigor e critério na reflexão pública que se promove, nomeadamente ao nível da comunicação social, dado que, constata ele, “Somos, cada vez mais, um país de “tudólogos”, toda a gente opina sobre tudo, ouvimos a mesma pessoa a comentar a Guerra da Rússia com a Ucrânia e logo a seguir a atual situação política nos EUA, depois os elevados índices da violência no namoro ou doméstica revelados por um determinado estudo ou o mais recente caso de bullying”